sábado, 31 de outubro de 2015

PORTAL DO UNIVERSO: o começo de muitas coisas...

Acho que foi em 1986... O tempo é um carrasco implacável quando não registramos as datas de maneira eficaz. Daí, contamos apenas com a imprecisão das nossas memórias. Mas, se estiver errado quanto às informações deste texto, peço que me perdoe.

Naquele ano, alguns leitores de quadrinhos começaram a se reunir num pátio do Centro Cultural São Paulo, perto da Estação Vergueiro do Metrô, na cidade de São Paulo. Eles, ou melhor, nós (eu era um deles) nos encontrávamos lá quase que religiosamente todas as manhãs de Domingo... às 9h!!! Imagine só: adolescentes se reunindo nas manhãs de Domingo às nove da manhã para falar sobre quadrinhos! Éramos muito apaixonados por HQs mesmo... E o grupo também tinha um nome pomposo: Conclave dos Quadrinhos!

Quem reuniu esse bando de doidos (porque só doidos acordariam cedo no Domingo pra bater papo sobre quadrinhos!) foi o João Paulo Lian Branco Martins, que, na época, era tradutor de quadrinhos da Editora Abril. E, quando os encontros ficaram mais e mais frequentes, foi de comum acordo que iríamos produzir um fanzine sobre HQs!

Hoje isso pode não parecer grande coisa, quando temos acesso ilimitado a internet nos nossos próprios celulares. Mas estou falando dos longínquos anos 1980, uma época em que qualquer informação era disputada a tapa e escondíamos as revistas importadas da Marvel e DC dentro de outras revistas menos procuradas nas prateleiras das livrarias LaSelva ou Siciliano para buscá-las depois, quando tivéssemos dinheiro no bolso! Crise nas Infinitas Terras, Batman: O Cavaleiro das Trevas ou Watchmen acabavam de ser lançadas nos EUA. Só pra você se situar melhor no momento histórico, 1986 foi o ano em que Paul Hogan fazia sucesso nas telas com Crocodilo Dundee! Também foi o ano em que estreou Highlander nas telonas e as salas de cinema nunca foram tão frequentadas por casais apaixonados por causa de 9 1/2 Semanas de Amor (com o, então galã, Mickey Rourke e a bela Kim Basinger). Mas outras produções cinematográficas também estreavam, como Labirinto (com David Bowie), Curtindo a Vida Adoidado (Matthew Broderick), o remake A Mosca (de David Cronenberg) e O Nome da Rosa (com Sean Connery), entre tantos outros. Também foi o ano em que a banda inglesa Queen fez um dos maiores shows de todos os tempos em Wembley e Metallica lançou seu álbum Master of Puppets. Ah! Também foi o ano em que chegava ao fim o programa de TV Balão O Teatro Mágico. E também foi quando aconteceu o terrível acidente nuclear de Chernobil, na Ucrânia...

Nesse cenário, quando a internet era um sonho distante e quase impossível, nós nos reunimos e decidimos que um fanzine seria feito. E seria um fanzine cheio de informações, com entrevistas, resenhas, checklists etc. Muito material que usávamos como fonte era extraído da fantástica revista americana Amazing Heroes, uma publicação que dava de dez a zero na maioria das revistas especializadas que surgiriam depois!


E começamos a discutir as pautas das matérias que fariam parte do primeiro número do Portal do Universo (este seria o nome do nosso fanzine)! Tudo definido, cada um de nós se incumbiu de uma tarefa e arregaçamos as mangas. O João Paulo conseguiu liberar acesso de alguns de nós para fazer uma entrevista com algumas pessoas da Editora Abril (sua divisão Infanto-Juvenil ficava na Rua Bela Cintra, 299, paralela à Rua Augusta, em São Paulo) e também cuidou da edição final da publicação. Muitos de nós passávamos horas em nossas casas redigindo matérias e datilografando (não, não existiam micros naquela época!). Então, depois de muito custo, o fanzine ficou pronto! Tudo xerocado e grampeado!

Isso tudo se perdeu pra mim depois de tantas mudanças de casa etc. Não fiquei com nenhum exemplar em mãos. Mantive contato com algumas pessoas do Conclave e outras voltei a encontrar no Facebook. E foi graças à uma dessas pessoas que consegui um exemplar da primeira edição do Portal do Universo. Sem a gentileza de Wilson Simonetto, que me emprestou seu exemplar para ser escaneado, eu jamais teria como postar todas as páginas desta publicação pré-histórica. Então, Wilson, você tem minha eterna gratidão!

Agora, fique à vontade para ver e ler uma espécie de documento arqueológico feito por fãs de quadrinhos. Mas tenha paciência com o conteúdo. Éramos jovens. Éramos ingênuos. Éramos tolos. Mas, acima de tudo éramos sonhadores!

Como sempre, desejo uma boa leitura a você!


– Leandro Luigi Del Manto



Aqui estão as páginas escaneadas do fanzine:



























sexta-feira, 30 de outubro de 2015

EPIC ILLUSTRATED, UMA SÉRIE SEM IGUAL!

Os anos 1970 foram marcantes em praticamente todas as mídias de entretenimento, mas nas histórias em quadrinhos este período foi especialmente importante pela diversidade de estilos que surgiram. Desde a década anterior, as HQs americanas haviam sido dominadas pelo gênero de super-heróis. E isso se refletiu em outros cantos do globo também. No Brasil, as saudosas editoras Ebal e Bloch deixaram sua marca na história com Marvel e DC, enquanto a Abril dominava o mercado de quadrinhos com a Disney e a RGE investia pesadamente nos heróis clássicos, principalmente, da King Features. Na Europa, entretanto, uma publicação mudaria todo o mundo dos quadrinhos de forma radical...


Em dezembro de 1974, os franceses causaram uma verdadeira revolução com o lançamento da revista Métal Hurlant (que poderia ser traduzida grosseiramente como “Metal Gritante”). Para os leitores da época que haviam se deslumbrado com a arte requintada de autores americanos do calibre de Jack Kirby, Neal Adams, John Buscema, Gil Kane, Steve Ditko e tantos outros monstros sagrados das HQs que abrilhantaram incríveis aventuras dos super-heróis, a revista Métal Hurlant foi um divisor de águas! Criada por Bernard Farkas (que cuidava das finanças), o jornalista e escritor Jean-Pierre Dionnet, e os artistas Jean Giraud (que ficaria conhecido mais tarde apenas como Moebius) e Philippe Druillet, a publicação esbanjava bom gosto, talento e ousadia. Em breve, além de Moebius e Druillet, suas páginas trouxeram também Frank Margerin, Richard Corben, Alejandro Jodorowsky, Enki Bilal, Caza, Berni Wrightson, Milo Manara e muitas outras feras. Foi uma questão de tempo até que uma versão americana surgisse nas terras do Tio Sam... Assim, em abril de 1977, os leitores ianques foram apresentados à Heavy Metal, que, no início, nada mais era do que uma versão editada e traduzida da sua irmã francesa Métal Hurlant. Com o tempo, a Heavy Metal foi ganhando uma cara própria e apresentou histórias próprias, embora seu forte ainda continuasse sendo um portal de acesso aos artistas europeus...


A Marvel continuava firme e forte com seus super-heróis, mas como já dizia o ditado, “nunca guarde todos os ovos na mesma cesta”. Com títulos mais adultos e violentos como Marvel Super Special, Marvel Preview, Bizarre Adventures e, é claro, Savage Sword of Conan, a Marvel achou por bem disputar a mesma fatia de mercado da Heavy Metal. Assim, em 1979, começaram a pensar numa revista que, inicialmente, seria editada pelo respeitado editor Rick Marshall e colocada em prática dentro das páginas da já existente Marvel Super Special. Então, no segundo semestre daquele ano, quem tomou as rédeas do projeto foi Archie Goodwin, que já havia demonstrado mais do que criatividade e competência na Warren com as emblemáticas revistas Creepy e Eerie. Foi assim que, sob a batuta deste genial editor e escritor, surgiu a revista Epic Illustrated em março de 1980.

Com uma capa classuda assinada por nenhum outro além de Frank Frazetta, o primeiro número da Epic Illustrated apresentou uma política editorial quase “proibida” dentro da Marvel: as histórias eram publicadas dentro do esquema “creator-owned”, ou seja, seus direitos pertenciam aos autores, não à editora. Isso e a simpatia lendária de Archie Goodwin atraíram uma legião de jovens e veteranos quadrinistas ávidos para publicar seus projetos pessoais. E assim foi. Com papel de luxo e impressão de qualidade, cada número de Epic Illustrated era um deslumbramento visual e de conteúdo. Histórias com temáticas verdadeiramente adultas, artigos recheados de informação e entrevistas reveladoras com pessoas do meio de entretenimento, ensaios de artistas conceituados e muitas outras coisas transformaram a revista num título emblemático dos anos 1980. Verdadeiro celeiro de ideias e artistas, Epic Illustrated apresentou aos leitores obras-primas dos quadrinhos como: A Odisseia da Metamorfose, de Jim Starlin; Elric de Melniboné, a fantástica adaptação de parte da obra de Michael Moorcock feita por Roy Thomas e P. Craig Russell; Marada, a Mulher-Lobo, de Chris Claremont e John Bolton; Generation Zero, de Archie Goodwin e Pepe Moreno; The Last Galactus Story (jamais concluída!), de John Byrne e Terry Austin; Toadswart d'Amplestone, de Tim Conrad; The Sacred and the Profane. de Dean Motter e Ken Steacy; Abraxas and the Earthman, de Rick Veitch; Last of the Dragons, de Denny O’Neil, Carl Potts, Terry Austin e Marie Severin; e tantas outras assinadas por Wendy Pini, Jeffrey Jones, Michael Kaluta, Barry Windsor-Smith, Bernie Wrightson, Stephen R. Bissette, Jon J Muth, Arthur Suydam, Kent Williams etc. Suas capas eram verdadeiros portais mágicos assinados por nomes estelares como Richard Corben, Frank Frazetta, The Brothers Hildebrandt, Boris Vallejo e muitos outros.


Foi graças à revolução artística de Epic Illustrated dentro da Marvel que surgiu um selo de quadrinhos também no esquema creator owned em 1982: Epic Comics. A série inaugural deste novo selo foi Dreadstar, de Jim Starlin, que havia iniciado a saga cósmica nas páginas da própria Epic Illustrated. Depois, vieram Alien Legion (Legião Alien), de Carl Potts, Alan Zelenetz e Frank Cirocco; Starstruck, de Elaine Lee e Michael Wm. Kaluta; Six from Sirius, de Doug Moench e Paul Gulacy; Sisterhood of Steel (Irmandade do Aço), de Christy Marx e Mike Vosburg; Black Dragon, de Chris Claremont e John Bolton; The One, de Rick Veitch; Marshal Law, de Pat Mills e Kevin O’Neill; Groo, de Sérgio Aragones; Moonshadow, de J. M. DeMatteis, Jon J. Muth, Kent Williams e George Pratt; Elektra: Assassin, de Frank Miller e Bill Sienkiewicz; e mais um monte de coisas boas, muito boas!

Mesmo não tendo conseguido “roubar” o público já cativo e fiel da Heavy Metal, a série Epic Illustrated trouxe ao mundo muito do que existiu de melhor nas histórias em quadrinhos dos anos 1980. Sua última edição, publicada em fevereiro de 1986 encerrou uma era de fantasia e ficção científica como nunca se viu antes. Uma publicação sofisticada como aquela não conseguiu sobreviver ao ritmo desenfreado de produção enorme da Marvel. Seria necessária uma equipe muito maior e focada apenas narevista, buscando promoções, publicidade e colocando em prática outras estratégias de marketing além daquelas adotadas para as revistas de super-heróis. A Epic Illustrated era sofisticada demais para a Marvel...

De qualquer maneira, foram 34 belíssimas edições que mudaram a forma como eu enxergava os quadrinhos. Depois que lemos uma revista dessas, queremos mais e mais. Abaixo estão as capas maravilhosas desse título sem igual. E cada uma delas é um passaporte para mundos inigualáveis de aventuras sem fim!

- Leandro Luigi Del Manto






AS CAPAS INCRÍVEIS!




Epic Illustrated #1 (Março de 1980)
Capa de Frank Frazetta






Epic Illustrated #2 (Junho de 1980)
Capa de Richard Corben




Epic Illustrated #3 (Setembro de 1980)

Capa de Paul Gulacy




Epic Illustrated #4 (Dezembro de 1980)

Capa de Michael Kaluta





Epic Illustrated #5 (Abril de 1981)

Capa de Greg Hildebrandt e Tim Hildebrandt





Epic Illustrated #6 (Junho de 1981)

Capa de Neal Adams





Epic Illustrated #7 (Agosto de 1981)

Capa de Barry Windsor-Smith





Epic Illustrated #8 (Outubro de 1981)

Capa de Howard Chaykin





Epic Illustrated #9 (Dezembro de 1981)

Capa de Tim Conrad





Epic Illustrated #10 (Fevereiro de 1982)

Capa de John Bolton





Epic Illustrated #11 (Abril de 1982)

Capa de James Fox





Epic Illustrated #12 (Junho de 1982)

Capa de Frank Brunner





Epic Illustrated #13 (Agosto de 1982)

Capa de Michael Saenz





Epic Illustrated #14 (Outubro de 1982)

Capa de P. Craig Russell




Epic Illustrated #15 (Dezembro de 1982)

Capa de Boris Vallejo





Epic Illustrated #16 (Fevereiro de 1983)

Capa de Barry Windsor-Smith





Epic Illustrated #17 (Abril de 1983)

Capa de Tim Conrad





Epic Illustrated #18 (Junho de 1983)

Capa de John Bolton





Epic Illustrated #19 (Augusto de 1983)

Capa de Jim Steranko





Epic Illustrated #20 (Outubro de 1983)

Capa de Stephen Hickman





Epic Illustrated #21 (Dezembro de 1983)

Capa de George Bush





Epic Illustrated #22 (Fevereiro de 1984)

Capa de John Bolton





Epic Illustrated #23 (Abril de 1984)

Capa de John Bolton





Epic Illustrated #24 (Junho de 1984)

Capa de Pepe Moreno





Epic Illustrated #25 (Agosto de 1984)

Capa de Jeffrey Catherine Jones





Epic Illustrated #26 (Outubro de 1984)

Capa de Bill Sienkiewicz





Epic Illustrated #27 (Dezembro de 1984)

Capa de Clyde Caldwell





Epic Illustrated #28 (Fevereiro de 1985)

Capa de Michael Kaluta





Epic Illustrated #29 (Abril de 1985)

Capa de Stephen Hickman





Epic Illustrated #30 (Junho de 1985)

Capa de Bernie Wrightson





Epic Illustrated #31 (Agosto de 1985)

Capa de John Bolton





Epic Illustrated #32 (Outubro de 1985)

Capa de Jerry Bingham





Epic Illustrated #33 (Dezembro de 1985)

Capa de Phil Hale





Epic Illustrated #34 (Fevereiro de 1986)

Capa de Arthur Suydam